domingo, 11 de dezembro de 2011

Maturidade - Martha Medeiros

"Uma amiga me escreve um e-mail dizendo-se arruinada, andou fazendo umas besteiras e agora está curtindo uma deprê gigantesca, daquelas de não ter vontade de sair da cama, de se arrumar, de se depilar: "Vou virar uma mulher peluda, bem horrorosa, pra homem nenhum me querer, assim não me meto mais em fria!". Respondo com um e-mail divertido e, entre uma gracinha e outra, dou a ela uns conselhos, uns toques de quem até parece que já passou por tudo e viu tudo. Ela, melhorzinha, responde, declarando-se chocada: "Você está nojenta de tão madura!".
Outra amiga me escreve dizendo estar danada da vida com um ex-namorado que, depois de seduzi-la por meses até fazê-la reavaliar uma reconciliação, agora deu pra se fazer de gostoso, não atender telefonemas. "Qual é a desse cara? Uma hora quer, outra hora não quer. Vou ficar louca!!!" Sugiro a ela que escolha um motivo mais sensato para ficar louca, ex-namorado que ainda mora com a mãe não compensa o chilique. E rimos. E lembramos da adolescência. E trocamos frases espertas. E ela: "De onde você tirou essa serenidade toda? Não vai me dizer que amadureceu? Putz, é contagioso?".
Por via das duvidas, melhor não se aproximar, vá que pegue. De uma hora pra outra, fiquei assim, lúcida e diabolicamente tranquila. não que os problemas tenham sumido, mas deixaram de ser coisa de outro mundo. Se antes eu perdia o sono quando a grana encurtava, agora é o seguinte: vai dar. Vai pintar um trabalho extra. Olha que dia lindo lá fora. Dá-se um jeito. E à noite, durmo. Durmo como se estivesse num sarcófago, durmo feito a múmia de Tutankamon.
Quando eu pisava na bola com alguém - amiga, marido, mãe, empregada -, mergulhava em culpa, considerava a relação perdida, até que me ocorreu uma frase milagrosa para solucionar impasses: " Me desculpe". Funciona que é uma maravilha.
(...) Fazer o que com tanta maturidade? Chamar um médico, urgente. Isso não é normal."

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